Resenha: Uma Memória de Jane Austen, de James Edward Austen-Leigh

by - sábado, junho 27, 2015

Quem não é novato nesse blog sabe que gosto muito de Jane Austen. Gosto tanto a ponto de não me limitar a ler suas obras originais, mas também buscar filmes, séries e tudo mais que for baseado em sua obra. Nesse caso, é óbvio que eu me envolveria com sua biografia, ou pelo menos com o mais próximo de uma biografia que for possível encontrar. Esse é o caso de "Uma Memória de Jane Austen".



Uma Memória de Jane AustenAutor: James Edward Austen-Leigh
Editora: Pedrazul | 232 páginas
O livro contendo as memórias da tia Jane Austen, compilado por James Edward Austen-Leigh, foi publicado no ano de 1870, mais de meio século após a morte da escritora. A biografia, que é a junção das lembranças do sobrinho James Edward e de duas de suas irmãs, Anna Lefroy e Caroline Austen, continua, ainda hoje, mesmo após várias outras biografias lançadas mundo afora, a ser a autoridade principal da veracidade de sua história e a fonte e referência para todas as obras subsequentes. Uma Memória de Jane Austen traz as lembranças de família, a narração de sua vida por parte dos sobrinhos que conviveram com ela na infância e as reminiscências encantadoras de uma época, de seus costumes e tradições. Inclui, também, o registro de quando a autora dava início à carreira, parte de sua correspondência, as quais mostram sua personalidade, o amor pela família, pelos amigos e pelos livros. Lembranças sutis, como a dos chapéus usados por ela, de sua beleza delicada, do tom de sua voz, de sua alegria e de seu papel fundamental na família Austen. Memórias vívidas para milhões de fãs daquela que foi e ainda é a mais querida escritora inglesa de todos os tempos. Esta edição, pela primeira vez no Brasil, reúne, além da biografia escrita por James Edward, o capítulo cancelado de Persuasão e textos inéditos de sua juvenília.

Ainda falando sobre como 2015 tem sido um ano de realizações de desejos literários, acho que nem preciso dizer que essa belezinha estava na minha lista desde que a editora anunciou seu lançamento. É fundamental para toda e qualquer tiete ter uma biografia do alvo de tanto amor e essa é a mais legítima ao qual podemos ter acesso.

Se eu gostei? Tenho sentimentos dúbios a respeito. Trata-se de uma biografia, um registro documental bastante antigo e que não foi feito para ser "legal ou divertido". Outro item que me deixa em dúvida a respeito de um "gostei" é que esse tipo de biografia nem sempre pode corresponder a verdade. A razão disso? Posso oferecer ao menos duas:

1. Estamos falando de uma obra escrita por alguém da família de Austen, porém, que não tinha as lembranças mais fiéis possíveis devido aos anos passados entre a morte da autora e a escrita, sem contar que muitas pessoas que conheceram Austen pessoalmente e tinham papéis ou cartas de sua autoria se desfizeram desses itens devido a aversão a ideia de expor documentos privados e também por não julgarem que ela despertaria um interesse tão prolongado.

2. Também existe a tendência de proteger e projetar a imagem de acordo com os anseios da família e segundo as normas sociais da época. Austen é retratada como uma mulher doce, humilde, sensível e cristã. Não houve defeitos a serem retratados ou pontos de controvérsia. É um tributo a memória de Jane e também uma resposta aos que estavam interessados em sua vida. Portanto, nada de esperar por possíveis escândalos e fofocas ou histórias de amor perdidas por aí.

Esses são obstáculos? Sim, são. Isso sem contar a linguagem, que faz com que o leitor precise ter atenção para manter o fio da meada, mesmo a tradução sendo boa. Porém o livro traz diversos itens como curiosidades, resquícios pessoais dos hábitos da autora e o capítulo cancelado de "Persuasão". E para quem é fã, isso é o bastante para dar um 'quentinho no coração'.

Algumas curiosidades eu já tinha conhecimento, como o fato da autora escrever na sala principal de sua casa, sempre em pequenos papeis que podiam ser escondidos ou cobertas por folhas de mata-borrão, já que não desejava que ninguém visse o que estava escrevendo ou qual sua ocupação. Do mesmo modo, a porta rangendo que, embora fosse incômodo, alertava Jane sobre a chegada de outras pessoas. Esses são itens presentes em outras obras como biografias romanceadas e também nos prefácios e introduções de sua Juvenília, mas que é sempre legal descobrir qual a origem.

Já outras curiosidades eu não tinha a menor ideia, como o fato de Jane Austen ter pensado em desfechos de alguns dos personagens de suas obras, mesmo não sendo mencionados no fim de suas respectivas obras. Esse é o caso das outras irmãs de Elizabeth, de "Orgulho e Preconceito", que não tiveram maiores atenções na obra original. Também é possível encontrar outros detalhes de "Emma" e "Mansfield Park", o que já me fez o livro valer muito a pena.

Em suma: se você é fã de Jane Austen, esse livro é fundamental! Quatro corujinhas e muito amor pela Pedrazul, que finalmente trouxe a obra para o Brasil.

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