Resenha: A Casa da Águia, de Duncan Sprott

by - sexta-feira, novembro 27, 2015

A Casa da Águia - Tetralogia dos Ptolomeus - Livro I é um livro maravilhoso. Lembro de ter comprado sem muita pretensão, mas como sou fascinada por romances históricos, especialmente aqueles no Antigo Egito, este foi uma escolha bem óbvia para mim. A tetralogia dos Ptolomeus começa com a história do primeiro Ptolomeu, governante do Egito após a conquista de Alexandre, o Grande.

A Casa da Águia





Sinopse:

Uma história esquecida nas areias do tempo, num universo tecido pelas mãos de ídolos não mais cultuados. Rá, o deus-sol. Anúbis, o faraó do mundo inferior, deus dos mortos e condutor das almas. Thot, o escriba do Egito, o grande mágico, o juiz que pesa o coração dos homens e o narrador de "A Casa da Águia". Primeiro volume do Quarteto dos Ptolomeus.

É com a capa da divindade que Duncan Sprott se veste para contar a trágica história de Ptolomeu e seus descendentes. Por 12 gerações soberanos do Nilo — desde Alexandre, o Grande, até a queda de Cleópatra. Os olhos de Thot, acostumados a perscrutar a alma dos homens, são o farol perfeito para iluminar a trajetória desse macedônio. O soldado que guardou o corpo de seu comandante e mais tarde se tornou faraó, coroado deus-vivo.


O livro


Duncan preferiu narrar o livro pela voz do deus Toth, o que ficou fantástico. Toth é petulante e até arrogante durante a leitura, mas narra com riqueza de detalhes a forma como, lentamente, Ptolomeu se torna o faraó do Egito e o precursor da última dinastia egípcia. A ideia do autor é narrar as dez gerações da família de ptolomeus até sua última rainha, Cleópatra.

Toth não dá muita atenção ao leitor. Ele o trata como um aluno intransigente que não precisa de muitos detalhes de batalhas, por exemplo. Mas como deus da sabedoria, temos detalhes de outros eventos, como partos, confecção de tônicos, cerimonias religiosas. O deus mostra a mudança que ocorre em seu país quando Ptolomeu recebe a sugestão dos sacerdotes de se nomear faraó. Isso o faria ganhar o respeito do povo, que entenderia que a ordem divina foi restabelecida.

Temos alguns episódios que narram as vitórias do exército macedônico, a crueldade dos gregos ao conquistar os lugares, as decisões polêmicas de Alexandre.

Ei! Forasteiro! Ei! Seu ignorante! Você, que tem estado para chegar há tanto tempo! Você está muitíssimo atrasado! Sim! É com você mesmo que eu estou falando, leitor. Porque acho que você não sabe nada sobre Ptolomaios - Ptolomeu. Sobre Ptolomeu, o grego que foi faraó do Egito. Tampouco sobre a terrível tragédia de sua casa. Você não sabe quem foi Ptolomeu, sabe? Nunca ouviu falar dele, ouviu? Você não sabe nem sequer pronunciar o nome dele. Verdade! O que você merece mesmo, e sem demora, é uma sova no solado dos pés.

Página 27

O choque de culturas entre gregos, macedônios e egípcios é muito interessante. Quando Ptolomeu foi coroado faraó, sua esposa se recusava a ser comparada com Hathor, a vaca sagrada, já que para os gregos era uma ofensa. Toth deixa bem claro que torce o nariz, digo, torce o bico para os forasteiros e que era necessário aguentar esses caras para a sobrevivência do Egito enquanto nação soberana. Com a morte de Alexandre, ficou ainda mais fácil para os sacerdotes manipularem Ptolomeu, dizendo que se ele fizesse isso ou aquilo, o povo egípcio ficaria descontente e deixar um povo descontente era abrir as portas para a anarquia.

Cleópatra
Cleópatra nos terraços de Philae, pintura de Frederick Arthur Bridgeman

Não é uma dinastia fácil de acompanhar. Incestos são comuns, tem cena de estupro, bebedeira, mortes e envenenamentos. Toth pode ser racista e preconceituoso e acho que seja natural devido sua posição de expectador - sendo que antes era um deus soberano - diante do que acontece em seu país. Temos mulheres fortes e poderosas, algumas sendo muito más ao longo da história.


Avaliação


Título original: The House of the Eagle
Editora: Record
Ano: 2005
Páginas: 572

A maneira como a história é narrada pode incomodar algumas pessoas porque é a visão de um deus soberano e todo-poderoso, portanto o que ele dá importância nem sempre é o que o leitor quer ler. São poucos os diálogos. Os textos são longos blocos de texto com as divagações de Toth sobre os Ptolomeus, que lhe são um mistério. Ele não consegue entender muitas de suas ações, em outras parece justificá-las.

O que acho mais legal aqui é justamente o fato de ter um deus egípcio narrando, saindo um pouco da esfera distante do narrador em terceira pessoa, ou da visão mais fechada de um narrador em primeira pessoa de dentro da dinastia ptolomaica. Mesmo não sendo uma narrativa nos moldes que conhecemos, é interessante sair da zona de conforto e ler este livro, um relato cru e muito intenso.

O livro vem com um glossário, mapas, detalhes da dinastia e até unidades e medidas gregas. No entanto, o autor não colocou uma bibliografia, então não sabemos o quanto é licença poética e o quanto é história. Cinco corujas para o livro e uma recomendação para que você também leia, ou vai apanhar de Toth!

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